quinta-feira, agosto 31, 2006

Ao fim de 33 anos...


Ao fim de 33 anos, localizei mais um Irmão da Guerra (António Alves) e desta vez em São João da Pesqueira.

O meu amigo Alves desde as matas de Angola até sempre e para sempre um AMIGO

quarta-feira, agosto 30, 2006

Clonagem de multibancos investigada pela Judiciária

Portel viveu ontem momentos de pânico à medida que se avolumava o número de cidadãos burlados, através da reprodução ilegal de cartões multibanco. Cerca de 40 pessoas foram lesadas com levantamentos ilícitos, feitos no estrangeiro, das suas contas bancárias, durante o fim-de-semana. Fonte do balcão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) de Portel garantiu ao DN que as pessoas vão ser ressarcidas, mas há "centenas" de cartões clonados nesta vila alentejana.


Para saber como funciona a burla, clique aqui

terça-feira, agosto 29, 2006

As artimanhas dos bancos

.... e vão sacando mais uns dinheiritos e assim vão engordando os seus lucros.




Lucros dos bancos aumentaram 30% em 2005

A banca portuguesa viu os seus lucros crescerem 30% em 2005, face ao ano anterior, de acordo com os dados oficiais do sector, ontem disponibilizados pela Associação Portuguesa de Bancos (APB), no seu boletim informativo.

Juros de Contas Ordenado podem chegar a 21%

O saldo negativo nas designadas Contas Ordenado oferecidas pela banca pode custar 21% ao ano e as instituições não informam sobre estas taxas de juro na Internet, observa o Jornal de Negócios na edição de terça-feira.

A tentação de deixar as contas bancárias entrarem em saldo negativo «é grande, em particular, quando o aumento dos encargos mensais reduz de forma significativa o orçamento disponível dos agregados familiares».
Mas, explica o artigo, ceder à utilização do crédito nas contas à ordem tem um custo muito elevado, que pode chegar aos 21% ao ano, em termos nominais.
E nem as denominadas contas ordenado escapam às comissões cobradas pelos bancos, no caso de se começar a utilizar antecipadamente o ordenado do mês seguinte, uma operação denominada na linguagem da banca por descoberto bancário autorizado.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Metade



    E que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
    Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
    Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

    Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza.
    Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada, mesmo que distante.
    Porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.

    Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
    Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
    Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

    Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,
    E que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
    Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

    Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
    Que o espelho reflicta em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
    Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.
    Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.

    E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
    Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
    Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente
    Complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
    Porque metade de mim é plateia e a outra metade, é canção.

    E que minha loucura seja perdoada.
    Porque metade de mim é amor e a outra metade... também...

    Oswaldo Montenegro

domingo, agosto 27, 2006

Ser diferente é normal


Um sujeito estava colocando flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês colocando um prato de arroz na lápide ao lado.

Ele se vira para o chinês e pergunta:
- Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o defunto virá comer o arroz?
E o chinês responde:
- Sim, quando o seu vier cheirar as flores!!!

"Respeitar as opções do outro, em qualquer aspecto, é uma das maiores virtudes que um ser humano pode ter."
"As pessoas são diferentes, agem diferente e pensam diferente. Nunca julgue. Apenas compreenda!"



segunda-feira, agosto 21, 2006

Romaria da Senhora d´Agonia terminou em beleza




Data de 1744 a veneração de Viana do Castelo à Virgem da Agonia, invocada pelos pescadores para que o mar lhes seja benigno. Fixado o dia 20 de Agosto para as festas em sua honra, em 1772 uma portaria régia autorizou a realização de uma feira franca na cidade, nos dias 18, 19 e 20 do mesmo mês. Desde então, a romaria da Senhora d´Agonia tornou-se numa das mais belas, senão a mais bela, coloridas e grandiosas festas populares de Portugal.
Vários cortejos animaram os três dias das festas, acompanhados de muita música e gente bonita que veste os mais belos trajes tradicionais do Minho: o desfile da mordomia, acompanhado por foguetes e bandas de música saúda a Comissão das Festas e os mais altos representantes da cidade, terminando na Praça da República onde os "zabumbas" fazem vibrar os seus enormes bombos e desfilam os "Gigantones" , enormes e estranhas figuras que há mais de cem anos vieram de Santiago de Compostela animar a Romaria d´Agonia; o cortejo etnográfico, com os carros alegóricos que recordam os costumes dos trabalhos do Minho, da terra e do mar, verdadeiro museu vivo de etnografia; o cortejo histórico que conta, numa mistura de lenda e realidade, histórias que marcaram Viana do Castelo.
A admirável procissão do mar simboliza a ligação profunda da cidade com o elemento que lhe forjou a história e parte da sua sobrevivência.
A imagem da Senhora d´Agonia com o seu manto roxo e azul é embarcada numa traineira, entre foguetes e repique dos sinos, e vai abençoar o mar para que ele seja sempre generoso no sustento e na bonança. A embarcação que leva a Senhora navega por entre um cortejo de centenas de barcos com os mastros embandeirados, regressando no final do dia à sua capela barroca, onde as portas ficam abertas para a devoção.
Milhares de pessoas espalham-se por tasquinhas e restaurantes onde a cozinha portuguesa, regada com o vinho verde da região, parece ter um sabor mais vivo, enquanto outras se juntam em redor dos coretos para escutar as bandas de música. Na última noite dos festejos, sobre a ponte centenária do rio Lima, onde se reflectem as luzes das embarcações, uma brilhante cachoeira de fogo de artifício anuncia que a festa da Senhora d´Agonia terminou.

sábado, agosto 19, 2006

Eu estava lá... e gostei

FESTIVAL AÉREO EM VIANA DO CASTELO
Exibição dos "Rotores de Portugal" sobre o Rio Lima.

Integrado nas festividades da Romaria da Senhora d'Agonia, a patrulha de helicópteros da Força Aérea Portuguesa "Rotores de Portugal", demonstraram as suas habilidades nos céus da Princesa do Lima.


Eu estava lá... na Senhora d'Agonia,



A Senhora d'Agonia, a maior romaria nacional, realiza-se este ano entre os dias 18 e 20 de Agosto.
Uma cara bonita, são as Mordomas da Romaria, na ordem das centenas, envergando um dos nossos mais belos trajes, que vão cumprir o dever de apresentar cumprimentos à Autoridade Governamental, à Edilidade e ao nosso Bispo, na companhia dos membros da Comissão Organizadora. Dada a riqueza e alacridade deste Cortejo.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Novo jornal gratuito será lançado em Setembro

A segunda quinzena de Setembro vai marcar o lançamento do primeiro número do:- «Diz que Disse»
Um jornal gratuito virado para o "mundo cor-de-rosa", referiu Gonçalo Perenas, administrador do projecto pertencente à Global Share, empresa de comunicação e serviços de consultoria, segundo noticia do Diário Económico. O título, que adoptará um formato tabloide de 32 páginas, terá a direcção editorial entregue a Cristina Molher.
Com cerca de 100 mil exemplares, a publicação incluirá secções de viagens, turismo e festas, entre outras. Depois de no dia 13 de Agosto, domingo, ter sido lançado o número zero do título, distribuído em algumas praias do Algarve, numa acção promocional que contou com a presença de várias modelos, acção repetida no dia de ontem, a Global Share planeia realizar uma festa de lançamento para o mês de Setembro, ainda sem data e local definidos.


O jornalismo cor-de-rosa é uma nova etapa histórica onde convivem lado-a-lado o sensacionalismo da imprensa amarela, a manipulação da verdade da imprensa marrom e a notícia light, plastificada e marketizada da imprensa cor-de-rosa.

quarta-feira, agosto 16, 2006

World Press Photo 2005

A vencedora:





Mãe e filho num centro de alimentação de urgência, Tahoua, Niger,

1 de Agosto de 2005

Autor: Finbarr O'Reilly, Canada, Reuters

Todas as fotos vencedoras de todas as categorias podem ser vistas no site oficial do World Press Photo.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Obrigado por tudo Francisco Louro


O Xico partiu mesmo. Custa acreditar, mas connosco está apenas, e só, a sua memória. Esta jamais se separará de nós, tantos foram os momentos bons, de companheirismo autêntico, que nos proporcionou. A sua bondade, aliada a uma grande disponibilidade para servir a comunidade, a imensa tolerância para com o seu semelhante, o seu desapego aos bens materiais, pondo sempre de parte interesses pessoais em prol do colectivo, foram as razões que levaram a que tantos amigos fizesse ao longo da vida, facto evidenciado na despedida final, no cemitério da Meadela.
Com o Xico fiz uma das grandes amizades da minha vida. Ele costumava dizer que comigo ia ao fim do mundo. Irmanamo-nos por tantas causas, que de muitas delas já nem me recordo. Pode-se com propriedade afirmar que onde estava um também estava o outro. Por essa razão, acompanhei, hora a hora, a luta que travou com a morte, na qual desta vez saiu perdedor, em curtíssimo espaço de tempo. Há que dizer, porém, que soube encarar esta derrota com a mesma coragem com que conseguiu muitas vitórias. “Estou preparado para morrer”, disse, vezes sem contas, quando começou a sentir que o fim podia chegar breve. “Enterrem-me com música e uma salva de palmas”. Exprimia estas palavras com a mesma coragem de que sempre fez alarde ao longo do tempo. E as palmas emocionadas, e intensas, daquela imensa multidão presente para o ver descer à terra não faltaram.Eram palmas de homenagem, mas de raiva, que bem gostaríamos de bater no agradecimento público que, enquanto vivo, lhe devíamos todos ter proporcionado.Obrigado por tudo Francisco Louro.
Será que, como muitos acreditam, nos voltaremos a encontrar, para passar em revista dezenas de anos de combate, e de camaradagem, por quase todas as causas de que a sociedade é portadora?
Então, até qualquer dia Companheiro.

Gonçalo Fagundes

sábado, agosto 12, 2006

Hoje estou triste… morreu o Chico Louro



Ser amigo, é ser para sempre

Morreu um pedaço de mim
Amputaram-me um amigo
Nunca te esquecerei Chico
Ficarás sempre comigo.

Contigo partilhei tudo
Ideias, emoções e amizade
Parte em paz amigo Louro
Já és uma imensa saudade.


...Até sempre amigo.

José Marques
Viana do Castelo

sexta-feira, agosto 11, 2006

Quem resiste a uma bela flor?...


Quem resiste a uma bela flor?...
São tantas na terra espalhadas
Geradas pelo supremo criador
Deviam ser todas amadas...

Formadas com muito amor
Cada uma tem sua beleza
Todas tem o seu valor
No mundo da natureza

Olhamos os lírios dos campos
Vestidos por DEUS com carinho
Nem os reis tem os seus mantos
Assim diz num pergaminho

A elas coube uma boa comparação
Valores iguais no jardim da vida
Uma sofre com o coração
Outra alegra a alma sofrida

Resistir flor e mulher...
É quem não tem sensibilidade
Quem as deseja sempre quer
Não se trata de vaidade...

A flor tem perfume e poesia
A mulher desejo profundo
Dê a elas, amor e cortesia
Em qualquer lugar deste mundo...

O choro das duas estremecem
A terra seca sem orvalho
Bem por isto se parecem
Com elas não tem atalho...

Amemos estas duas riquezas
Muito finas como o cristal
São jóias de tão grande beleza
Não existe nada igual...

O infinito ao clarão do luar
Que também é inspiração
Lembra delas e a todos confessa
Que flor é adorno e mulher é paixão...

Assim, quem as pode desmerecer?
Insensatos de coração...
Jamais as façam sofrer
Nunca as deixe cair no chão.

Gizeldo Baptista de Almeida

quinta-feira, agosto 10, 2006

Jardim convida a investir "onde não há bufos"


Alberto João Jardim apela "aos empresários do Continente que não estejam satisfeitos com aquilo que lá se passa para transferirem o seu domicílio fiscal para a Região Autónoma da Madeira. Aqui nem sequer há bufos", afirmou.

Jardim garante sigilo fiscal, já que, na Madeira, ninguém corre o risco de ver o nome incluído em listas de caloteiros publicadas na comunicação

Isto é a fraude fiscal legalizada que, com a ajuda do Sr. João, que com o seu controlo da instituição regional do sistema tributário e com o paraíso fiscal da Madeira, permite que o polvo do sistema financeiro não pague os mesmo impostos que todas as outras empresas pagam.

Claro que depois quem cobre o défice, são os sempre os mesmos, quem trabalha e paga honradamente os seus impostos

Como é fácil fazer filhos nas mulheres dos outros, Sr. João…

É PRECISO TER LATA!!!

Secretário pessoal do Presidente


O filhote tira um curso superior, tipo "licenciatura em apanhador de borboletas", um curso de 3 anos e de extrema importância para o Supremo Tribunal de Justiça.
O paizinho arranja um tacho, daqui a 6 meses tá nos quadros da função pública e depois vem um ministro a dizer que só nos podemos reformar aos 105 anos porque não há euros...

quarta-feira, agosto 09, 2006

Louvor

Que me perdoe o Sr. Motorista, pois não quero duvidar da sua competência enquanto fiel servidor do estado.
Mas… não há pachorra para tantos dislates dos nossos governantes.

segunda-feira, agosto 07, 2006

S.O.S - Socorro!!!


Eram 3h. da manhã acordei com um incêndio
na minha casa e começou no meu quarto!
Não quis ligar para os bombeiros.
Não tinha mangueira, nem nada!
Tentei apagar o fogo com as mãos.
Demorou cerca de 1 hora.
Estou na fase do rescaldo.
Não consigo dormir!
Tenho medo que volte a reacender!
Ainda não contabilizei os estragos.

Lila Loureiro,
Viana do Castelo

domingo, agosto 06, 2006

RETALHOS - O embarque para a guerra IV (fim)

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A tropa do exército, vinha de vários pontos do País em quantidade suficiente para encher o navio. Desfilava em continência perante as altas esferas militares, com as senhoras do Movimento Nacional Feminino e da Cruz Vermelha a distribuírem lembranças e folhetos sobre o território de destino.
Depois de os mandarem para a guerra ainda tinham que prestar vassalagem aos senhores da guerra que depois da cerimónia, da entrega de mais de um milhar de jovens para a guerra, regressariam sem remorsos para os faustosos sofás dos ministérios do Terreiro do Paço.
Felizmente dessa nos livrámos. Subimos directamente o portaló do navio sendo instalados em 2ª classe, em camarotes, como se fossemos diferentes dos demais militares, tal era o estatuto que uma Tropa Especial da Força Aérea dispunha.
Os soldados do exército, vulgo feijão verde, estavam mal preparados para a guerra pois, pouco mais sabiam do que marchar. Em menos de meio ano, lá estavam os verdadeiros sacrificados pela guerra, como se de animais se tratassem, a serem alojados em beliches armados nos porões negros do navio.
As famílias apinhavam-se nas varandas da gare marítima com lenços a acenar. As despedidas das famílias, o coro dos lamentos gritado por milhares pessoas são momentos muito difíceis de descrever. As lágrimas que derramei, embora disfarçadas, foram de solidariedade para com as mães dos muitos companheiros de viagem. Nenhum familiar meu se foi despedir porque o norte ficava muito longe e a vida difícil não o permitia.
Olhava para os militares pendurados em tudo quanto era sítio a lutar por um lugar no convés, nas baleeiras, ou a trepar aos mastros, para os últimos acenos.
A sirene apitava e, durante alguns anos, a instalação sonora tocava uma marcha intitulada “ANGOLA É NOSSA” independentemente do destino – um ritual abandonado nos anos mais próximos do fim da guerra.
“Carne p’ra Canhão!!!” era esse o sentimento que a marcha militar deixava… a alguns milhares de jovens que não sabiam se regressariam sãos e salvos. Enfim era a dita “guerra do ultramar” que nos esperava.
Por volta do meio-dia, o navio recolhia o portaló e os cabos. Afastava-se lentamente, virava a proa à foz do Tejo, passava por baixo da ponte do ditador, hoje ponte 25 de Abril, e deslizava diante da Torre de Belém. A fome já apertava e eram dadas instruções para a primeira refeição a bordo.
Ainda tenho bem presente o afastamento do navio do cais. Vi a multidão com rostos algo crispados a acenar os lenços e milhares de pessoas com as lágrimas escapando do choro compulsivo.
Já não se avistava o cais, mas ainda se ouvia o gritar lancinante das mães. Esses gritos acompanharam-me durante os nove dias de viagem. Foram terríveis os momentos do despegar do solo pátrio a caminho do desconhecido da guerra. Por mais cerimónias ou levantamento da moral das tropas, sabíamos que nem todos voltariam. Muitos de nós regressariam embrulhados em caixões, outros deixariam por lá as botas decepadas pelas minas, mas todos sabíamos que não mais seríamos os mesmos jovens que agora nos mandavam mar dentro.
Puta de vida esta…

sábado, agosto 05, 2006

RETALHOS - O embarque para a guerra III

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O “Vera Cruz”, antigo paquete de luxo, fez a sua 1ª viagem inaugural ao Rio de Janeiro em 1952. Com lotação esgotada, entre os muitos convidados encontrava-se o Almirante Gago Coutinho. Em 1954, juntamente com seu irmão gémeo, o paquete Santa Maria, iniciou a sua carreira aos portos da América Central. Em qualquer porto que atracava era motivo de interesse. A sua imponência e beleza como navio de linhas elegantes eram motivo de registo. Mantendo as viagens regulares ao continente americano, o Vera Cruz em 1956, realizou um périplo por África de 8 de Agosto a 29 de Setembro. Só em 1959 é que realizou a sua primeira viagem a Angola. Com o início da guerra colonial em Angola, o governo de Salazar, para fazer frente aos acontecimentos, requisitou diversos navios para o transporte de tropas e material de guerra, passando a ser uma das principais ocupações dos navios portugueses. O Vera Cruz não foi excepção. Adaptado para o transporte de tropas, com a instalação de alojamentos nas cobertas, a 5 de Maio de 1961, largou de Lisboa rumo a Luanda tendo no mastro principal hasteada a flâmula verde e encarnada, habitual nos navios de guerra. Em 1962, o Vera Cruz é requisitado para se deslocar ao Paquistão com o fim de recolher os militares feitos prisioneiros, devido à invasão da Índia Portuguesa pelos indianos.
Estava ali imponente atracado no Rio Tejo para mais uma missão que a guerra lhe destinava, embarcar tropas para o ultramar. Seria das últimas viagens que faria, pois em 1972 seria vendido para abate desaparecendo um dos símbolos da Guerra Colonial.
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quinta-feira, agosto 03, 2006

RETALHOS - O embarque para a guerra II

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Na esquina virada para o campo onde os mobilizados regressavam ordeiramente e quase em silêncio, estava, na penumbra, o sargento de dia, qual malvado, qual carniceiro sem dó nem piedade a apontar o caminho do cadafalso. Era com certeza mais um sargento analfabeto, orgulhoso das divisas conquistadas só porque se ofereceu para matar pretos em África, mas desprovido de qualquer sentimento altruísta e falho de humanidade.
De forma cobarde, apontava a cada um o caminho da guilhotina que lhes ia ceifar, pela última vez, o cabelo que estava novamente a começar a crescer.
“- Filho da puta, ainda por cima um nosso conterrâneo” – não se conteve o Afife.
“- É de Viana o gajo pá?”- logo perguntou outro.
Nem respondi com a vergonha, mas todos sabiam que sim.
Naquele momento uma garrafa de cerveja estilhaçou-se na parede a poucos centímetros da cabeça do açougueiro. Sei que voou por cima das nossas cabeças e arremessada bem lá de trás como se de uma granada se tratasse. Nunca se soube quem a atirou, nem tão pouco alguém procurou saber o autor. O clima de irmandade fortalecia-se e o assunto morreu ali para todos, menos para o sargento que, cobardemente, se encolheu e não tossiu nem mugiu. Com isso, beneficiaram aqueles que escaparam da ida ao barbeiro.
Hoje, passado mais de 30 anos, esse sargento que parecia que tinha o rei na barriga com a farda e as sujas divisas, passeia sozinho. Nenhum de nós, e somos bastantes, lhe passa “bife”.
De manhã bem cedo, mais cinquenta e dois pára-quedistas transportados num autocarro da Força Aérea partiram de Tancos até à capital, mais precisamente para o Cais da Rocha de Conde Óbidos, onde nos esperava o navio “Vera Cruz”.
Até 1974, o mar era a grande via de ligação ao império. Mais de 90% da carga e de 80% do pessoal metropolitano empenhado na guerra tinha sido transportado em navios. Os paquetes mais requisitados na ligação a África foram o Vera Cruz, o Niassa, o Lima, o Império e o Uíje. O Niassa foi o primeiro paquete afretado como transporte de tropas e de material de guerra, por Portaria de 4 de Março de 1961, mas seria o Vera Cruz a fazer mais viagens, chegando a realizar 13 num ano. Em 1961, efectuaram-se 19 travessias em nove paquetes em missão militar e o ritmo aumentou à medida que crescia a força expedicionária em África.
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terça-feira, agosto 01, 2006

RETALHOS - O embarque para a guerra


Todos tínhamos já como companhia a “guia de marcha” para Angola. Sabíamos que dali a uns dias estaríamos, do outro lado do mar, precisamente onde 10 anos antes tinha rebentado a guerra. Esta viria a conduzir à libertação desastrosa de uma das últimas colónias em África.
Nessa noite, nada nos restava, senão despedirmo-nos de nós próprios, com o corpo a despegar-se da alma, pois os dez dias de licença de mobilização já estavam gozados, as despedidas da família e os abraços dos amigos já estavam consumados e até dos braços da namorada já nos tínhamos separado. Era como se o cérebro se diluísse e se separassem os neurónios, fica-se um destroço humano. Este desunir o corpo da alma cria em nós uma tristeza travestida de alegria pela acção das dezenas de cervejas que se emborcam tingindo o espírito de cada soldado.
Nada nem ninguém conseguiria tingir por muitas horas este apocalipse que se apoderava de nós, onde o álcool só conseguia preservar por algumas horas este estado de falsa alegria que nos levava a coisas impensáveis.
Como a querer prolongar os santos populares, engalanaram-se as camaratas, de cama a cama, como rolos de papel higiénico áspero em consonância com o que fizeram de nós. Muitos, já bem bebidos, a incomodar os soldados que por cá ficavam a ultimar a sua preparação militar. Algumas escaramuças foram inevitáveis e as cervejas que nos acompanhavam tiravam-nos o discernimento e o bom senso. Os soldados precisavam de descansar porque para eles o dia seguinte, era mais uma preparação dura e infernal que os esperava e não se compadecia com os sinistros festejos dos mobilizados.
Já a madrugada ia alta e ainda se viam espalhados pelo campo de futebol que ficava quase paredes-meias com a camarata, muitos corpos vomitados, outros tantos sonolentos a acordar para a vida novamente. O efeito de uma falsa alegria que lhes tingia a tristeza, passava rapidamente e como cordeirinhos regressavam às suas casernas para tentar dormir um pouco antes do despontar do dia. O corpo casava-se de novo com a alma e o discernimento voltava lentamente.
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